Confesso que criei certa expectativa quanto ao meu retorno à capital pernambucana depois de quase 3 anos de ausência. Recife nunca deixou o meu imaginário, alimentado – sobretudo – pelas lendárias descrições feitas por João Cabral, Manuel Bandeira e José Lins do Rego. O lugar é realmente encantador e desnorteante, pois cada vez que toco o seu solo, tenho a sensação de que um novo ambiente se ergue diante dos meus olhos. E o que ainda é mais estranho, sem que ele perca, com isso, o doce afago de coisa antiga – um bicho que nos acompanha há séculos sem se dar conta de sua velhice.
Desta vez, voltei à cidade com o intuito de apresentar um trabalho no Congresso internacional sobre o imaginário. A pesquisa foi muito bem recebida, levando-se em consideração que tive pouco tempo para preparar a minha apresentação. Mas a verdade é que Recife não pode ser ocupada apenas com compromissos acadêmicos – é um crime deixar um homem se voltar apenas para o trabalho nas terras pernambucanas. A cidade ferve em cio, quase se doa aos passantes; não há, por exemplo, como resistir aos encantos do rio Capibaribe quando ele se derrama sobre a noite morna (apesar da poluição).
Recife tem um clima próprio, de modo que uma estranha sensação me toma ao adentrar nos seus bairros; parece que os céus e a claridade que lhes invadem não podem ser encontrados em qualquer outra parte do país. Talvez os gazes dos automóveis e das fábricas contribuam para esse efeito colateral – é a hora em que o meu lirismo morre de exaustão. Por outro lado, a violência é cada dia mais crescente, mas não chega a afetar os corações inebriados de beleza urbana. Digo que até me diverti ao ver, numa reportagem local, um homem conduzindo sua esposa pelas ruas (detalhe: puxada pelos cabelos). Parece que a cidade histórica resolveu aprofundar ainda mais as suas raízes: esbarrou na idade da pedra.
No mais, Recife é uma linda menina de olhos escuros e corpo bem talhado, de modo que qualquer confusão arquitetônica vira peça de mais alto requinte barroco. Não há dúvida de que a cidade é a capital cultural do Nordeste: teatros, prédios históricos, arte, cultura popular, gente bonita – tudo que um homem pode roubar de um deus para se tornar mais homem. Visitei alguns lugares durante a noite e o Paço da Alfândega é o grande destaque; situado às margens do Capibaribe (diante da estátua de Ascenso Ferreira) o ambiente é um show de requinte e cultura – o espaço conta com restaurantes, lojas de artesanato e galerias muito atraentes.
Depois de uma noite mal dormida, nada melhor do que um passeio às margens da praia de Boa Viagem. Essas águas estão cada dia mais belas e devem guardar uma sereia em seu seio – bom, tubarão garanto que tem! No fim da tarde peguei meu ônibus de volta à Natal, levando no bolso a saudade de um terra que permanecerá sendo, durante muito tempo, a mina de diamante que reluz diante do meu colo suspenso. Recife, comoção de minha vida... que bem você me faz à alma.
2 comentários:
Mas olha... Esse povo sai de Solonópole (CE) pra vir falar de Recife (PE). Como pode?! Reclamo um artigo sobre sua cidade natal.
OK. Quando estiver de férias, farei um artigo sobre Solonópole. Preparem-se! Vocês nunca viram nada igual.
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