sexta-feira, 18 de julho de 2008

Versos noturnos


Tenho andado despercebido pela angústia da floresta.
Na verdade,
sempre estive só com os pássaros.

Apalpo meu corpo
para ter a certeza de que sou real.
― Há tantos buracos por onde passei.
Nem mesmo o ladrilho
suporta as marcas cáusticas dos meus pés.

Se uma tempestade
me tirasse para dançar,
já me encontraria tomado pela poeira.

Ah, o cheiro amargo das cinzas...
Meu mundo se queimou
e não tive coragem de me distrair com o fogo.
Por um segundo,
eu quis que o tumulto lá fora
fosse a fogueira que me reduziria ao pó.

Converso longas horas com os demônios
na esperança
de que me tomem a alma.
Eu me enterro na noite,
enquanto a treva se derrama ansiosa sobre as ruas
(quase ao alcance do punho)

Certamente sou a ilusão de um passado
que já não me quer...
Os dias
(lamparinas loucas ao curso do vento)
vão apagando a minha face decomposta.

Quando criança
brincava com as sombras na parede!
(meu amigo feito de fumaça negra)

Hoje ando alheio ao
silêncio reduzido dos bairros sujos.
A cidade por onde ando
é a morte entranhada em mim.

Agora o vento me roça de leve
e me toma,
como se eu fosse um porto velho
onde todos entram sem pedir licença.
_____________________
OBS.: poema escrito durante o longo período de chuva aqui em Natal.

4 comentários:

Lígia Mychelle de Melo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lígia Mychelle de Melo disse...

Consegui te encontrar, até que não foi dificíl...gostei do poema, principalmente dos versinhos finais!Tô vendo que você é bom na arte de tecer versos!

Priscilla Xavier disse...

Prof!! Você não deve ter muito tempo de escrever, né? Mas, poste mais coisas ai, gostei do poema. Achei seu blog (não esse, o de literatura portuguesa) por indicação do professor Favero.
Mas acabei olhando este também rsrs
:)

Pati* disse...

Hehehehehe
Acabei de linkar seus dois blogs no meu, cá pra nós, o poema reflete muito a sua pessoa, gostei, embora a idéia de demônio não agrade muito meus ideias cristãos...

Té mais!